sábado, 30 de junho de 2012

Janela

Janela

Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,
janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão.
Janela sobre o mundo aberta, por onde vi...
meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:
minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.

Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
clarabóia na minha alma,
olho no meu coração.

Adélia Prado

#Hoje é o meu aniversário de casamento. 

terça-feira, 26 de junho de 2012

Dizendo flores com as palavras

Sim, falar. Não escrever num cartão...Sussurrar no ouvido de alguém. A-mo-vo-cê. Não para mandar com flores, mas pra fazer flores com as palavras. Não só para amores do sexo oposto, eleitos pra dividir a vida com a gente. Mas para todos os que verdadeiramente amamos. São muitos. Amamos quem divide com a gente um dia de trabalho. Amamos quem nos faz rir. Amamos quem dá ou aceita ajuda. Amamos quem sabe ser carinhoso. Existe amor em nós e é bom falar sobre ele. É energia que se multiplica e torna melhor o dia, o tempo, a vida.


segunda-feira, 25 de junho de 2012

Aqui!

“Úrsula se perguntava se não era preferível se deitar logo de uma vez na sepultura e lhe jogarem a terra por cima, e perguntava a Deus, sem medo, se realmente acreditava que as pessoas eram feitas de ferro para suportar tantas penas e mortificações. E perguntando e perguntando ia atiçando sua própria perturbação e sentia desejos irreprimíveis de se soltar e não ter papas na língua como um forasteiro e de se permitir afinal um instante de rebeldia, o instante tantas vezes desejado e tantas vezes adiado, para cortar a resignação pela raiz e cagar de uma vez para tudo e tirar do coração os infinitos montes de palavrões que tivera que engolir durante um século inteiro de conformismo.

– Porra! – gritou.

Amaranta, que começava a colocar a roupa no baú, pensou que ela tinha sido picada por um escorpião.

– Onde está? – perguntou alarmada.

– O quê?

– O animal! – esclareceu Amaranta.

Úrsula pôs o dedo no coração.

Aqui – disse.”
.
Gabriel Garcia Marquez
in Cem anos de Solidão

sábado, 23 de junho de 2012

Survivor

Depois de todas as tempestades e naufrágios, o que fica de mim em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro.


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Descentrada

segunda-feira, 18 de junho de 2012

A quem interessar possa

"eu não tenho culpa não fui eu quem fez as coisas ficarem assim desse jeito que não entendo que não entenderia nunca você também não tem culpa vou chamá-lo de você porque ninguém nunca ficará sabendo nem era preciso a culpa é de todos e não é de ninguém não sei quem foi que fez o mundo assim horrível às vezes quando ainda valia a pena eu ficava horas pensando que podia voltar tudo a ser como antes...e então quem sabe podia tudo ser de outra forma depois de pensar nisso eu ficava alegre quem sabe quem sabe um dia aconteceria mas depois pensava também que não ia adiantar nada e tudo começaria a ficar igual de novo no momento que um homem qualquer resolvesse trocar duas pedras por um pedaço de madeira porque a madeira valia mais e de repente outra vez iam existir essas coisas duras que vejo da janela na televisão no cinema na rua em mim mesmo e que eu ia como sempre sair caminhando sem saber aonde ir sem saber onde parar onde pôr as mãos os olhos e ia me dar aquela coisa escura no coração e eu ia chorar chorar durante muito tempo sem ninguém ver é verdade tenho pena de mim e sou fraco nunca antes uma coisa nem ninguém me doeu tanto como eu mesmo me dôo..."

Caio F. Abreu

domingo, 17 de junho de 2012

Direito de ser

E quando notou que aceitava em pleno o amor, sua alegria foi tão grande que o coração lhe batia por todo corpo, parecia-lhe que mil corações batiam-lhe nas profundezas de sua pessoa. Um "direito de ser" tomou-a, como se tivesse acabado de chorar ao nascer. Como? Como prolongar o nascimento pela vida inteira?
Clarice Lispector

sexta-feira, 15 de junho de 2012

aniversário

"Havia esperado durante todo o dia. O quê? nem ele próprio saberia dizer. Acordara já com a fatalidade da espera colocando um brilho triste nos olhos. Eo projetara sobre a mãe, primeira pessoa a abraçá-lo, que recuou um pouco ofendida. O mesmo recuo sentira estender-se às outras pessoas, à medida em que o abraçavam e felicitavam. Examinara-se ansioso ao espelho, tentando descobrir se o ano a mais também lhe colocara uma ferocidade a mais ou um novo espanto no rosto. Mas não. Nada. Lá estavam as mesmas feições um pouco vagas, o ar exato de quem espera alguma coisa. E contudo, nesse dia, ele esperava mesmo. A espera abstrata cedera lugar à outra — concreta. Ajeitara o rosto da melhor maneira possível, como se o sentimento novo (e no entanto tão antigo) fosse algo a esconder. Porque ele não queria surpreender nem chocar nem ferir. Pertencia àquela estranha espécie de pessoas que flutuam pelo mundo, sutis, evitando esbarrar em qualquer coisa. Não se sabia se procedia assim por simples delicadeza ou para defender-se. O fato é que era assim. E, portanto, desagradava-lhe aquele jeito de espera gritando alto no corpo inteiro."

in Aniversário

Caio F. Abreu

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Não há jeito!

Trechos de Cartas* do Caio para Hilda:
“Iniciei mil vezes o diálogo. Não há jeito. Tenho me fatigado tanto todos os dias vestindo, despindo e arrastando amor, infância, sóis e sombras. A verdade é que não sinto capaz de nada. Não é fossa. Fossa dá idéia de uma coisa subjetiva e narcisista. São motivos bem concretos, que inclusive transcedem o plano pessoal. E tudo tão insolúvel que a gente só pode fugir, porque ficar não adianta nada.” (Porto Alegre, 4 de março de 1970)
“E se é verdade que o tempo não volta, também deveria ser verdade que os amigos não se perdem. Eu não gostaria de acreditar nisso.” (Porto Alegre, 27 de março de 1973)
*Cartas publicadas no livro organizado por Italo Moricone, intitulado Cartas*

terça-feira, 12 de junho de 2012

el amor no se piensa

Fue entonces cuando Pedro le confesó su amor.

-Señorita Tita, quisiera aprovechar la oportunidad de poder hablarle a solas para decirle que estoy profundamente enamorado de usted. Sé que esta declaración es atrevida y precipitada, pero es tan difícil acercársele, que tomé la decisión de hacerlo esta misma noche. Sólo le pido que me diga si puedo aspirar a su amor.
-No sé qué responderle; deme tiempo para pensar.
-No, no podría, necesito una respuesta en este momento: el amor no se piensa, se siente o no se siente.

in Como Água para Chocolate
Laura Esquivel

#Feliz dia dos namorados!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

#profundidade

-Este é o Henry Jr.?
-Sim.
-Ele só fica olhando. É tão quietinho.
-É assim que queremos que ele seja.
-As águas paradas são as que têm maior profundidade.

trecho de Bukowski

domingo, 10 de junho de 2012

Acredito...

Acredito em Deus... ele está no pôr-do-sol, nas pessoas bonitas, legais, superanimadas...*-*

sábado, 9 de junho de 2012

Explicando...

Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.

Explicação é uma frase que se acha mais importante do que a palavra.
As pessoas até se irritavam, irritação é um alarme de carro que dispara bem no meio de seu peito, com aquela menina explicando o tempo todo o que a população inteira já sabia. Quando ela se dava conta, todo mundo tinha ido embora. Então ela ficava lá, explicando, sozinha.
Solidão é uma ilha com saudade de barco.
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança pra acontecer de novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
Autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer "eu deixo" é pouco.
Pouco é menos da metade.
Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
Desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça.
Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
Agonia é quando o maestro de você se perde completamente.
Preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.
Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára.
Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Renúncia é um não que não queria ser ele.
Sucesso é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe.
Vaidade é um espelho onisciente, onipotente e onipresente.
Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
Orgulho é uma guarita entre você e o da frente.
Ansiedade é quando faltam cinco minutos sempre para o que quer que seja.
Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada especialmente.
Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.
Alegria é um bloco de Carnaval que não liga se não é fevereiro.
Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.
Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.
Decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.
Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.
Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.
Perdão é quando o Natal acontece em maio, por exemplo.
Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.
Excitação é quando os beijos estão desatinados pra sair de sua boca depressa.
Desatino é um desataque de prudência.
Prudência é um buraco de fechadura na porta do tempo.
Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.
Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Emoção é um tango que ainda não foi feito.
Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.
Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Desejo é uma boca com sede.
Paixão é quando apesar da placa "perigo" o desejo vai e entra.
Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não. Amor é um exagero... Também não. É um desadoro... Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego? Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Amizade

Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta aos outros.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sorriso

Eu tenho pra mim que cada sorriso carrega uma magia de segredos doces inventados por Deus. E isso me soa como um toque divino em cada um de nós. Falo daqueles sorrisos sinônimos de fascínio. De presentes intocáveis, mas sentidos. De uma expressão com cheiro de flor. De flashes estrelados. De amor que sobra e é distribuído com gosto de festa.



quarta-feira, 6 de junho de 2012

Uma arte...

A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

- Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.

Traduzido de Elisabeth Bishop

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Clariceando


Qualquer um pode sonhar acordado se não mantiver acesa demais a consciência.

domingo, 3 de junho de 2012

O auto retrato

No retrato que me faço

- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!

Mário Quintana

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Beco sem saída

Tenho que ter paciência para não me perder dentro de mim: vivo me perdendo de vista. Preciso de paciência porque sou vários caminhos, inclusive o fatal beco-sem-saída."

Clarice Lispector
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De vez em quando tiro o mar de lá e ponho em mim. Só pra refletir a luz da lua.