sexta-feira, 20 de maio de 2011

Metade




 
Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza
Que o homem que eu eu amo seja pra sempre amado, mesmo que distante
Porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo  não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a uma mulher inundada de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro, seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesma se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui mas a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo mas a outra metade é cansaço.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor e a outra metade também.

(Trechos de "Metade", de Oswaldo Montenegro)


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De vez em quando tiro o mar de lá e ponho em mim. Só pra refletir a luz da lua.