segunda-feira, 18 de abril de 2011

Pérola



Ostra feliz não faz pérolas. 

Meu nome em latim sigfica pérola e eu acho lindo! =D Meu vestido de noiva foi todo bordado em pérolas. Tenho colares de pérolas de todos os tipos, cores e tamanhos. Acho que as pérolas deixa a mulher com um look muito feminino. Sempre pensei em um dia ter uma colar de pérolas verdadeiras...Que chic bem! =D

Um dia meu irmão me deu uma pérola de verdade, e o mais incrível era a embalagem do presente: uma ostra de verdade!! Ah! eu mostrava pra todo mundo, a ostra e dentro... a minha pérola! Usava a pérola, todos os dias, dentro de uma cestinha pendurada em um cordão. Hoje tá guardadinha.  Meu tesouro de pirata! = D Vou usar dia desses.

Mais um dia eu ouvi um comentário...foi a primeira vez que ouvi falar que ostra feliz não fabricava pérola, fiquei sem entender, pensei, procurei saber sobre isso... e encontrei o texto de Rubem Alves sobre as ostras. Após ler esse texto compreendi é necessário a dor para que a ostra faça suas pérolas e em momentos sofridos e tristes eu lembro que essa dor é necessária pra que eu possa fazer minhas pérolas.
Um grão de areia, entra na ostra, incomoda, machuca, fere, magoa...
E, pra se defender ela o envolve com camadas e camadas de sua mais PURA substância.
E a transforma em uma peça de grande valor.
Ouse nessa vida ser ostra!


"Ostras são moluscos, animais sem esqueletos, macias, que são as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, de pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas - são animais mansos - seriam uma presa fácil dos predadores.
Para que isso não acontecesse a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem.
Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas, saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário... Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste... As ostras felizes riam dela e diziam: "Ela não sai da sua depressão..." Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor.
O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de sua aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava o seu canto triste, o seu corpo fazia o seu trabalho - por causa da dor que o grão de areia lhe causava.
Um dia passou por ali um pescador com seu barco. Lançou a sua rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-a para sua casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro da ostra. Ele tomou-a em suas mãos e deu uma gargalhada de felicidade; era uma pérola, uma linda pérola. Apensa a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele tomou a pérola e deu-a de presente para a sua esposa. Ela ficou muito feliz..."
Ostra feliz não faz pérolas. Isso vale para as ostras,e vale para nós, seres humanos.
As pessoas que se imaginam felizes simplesmente se dedicam a gozar a vida. E fazem bem. Mas as pessoas que sofrem, elas têm de produzir pérolas para poder viver. Assim é a vida dos artistas, dos educadores, dos profetas. Sofrimento que faz pérola não precisa ser sofrimento físico. Raramente é sofrimento físico. Na maioria das vezes são dores da alma."

Texto de Rubem Alves.

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