domingo, 19 de dezembro de 2010

Natal solidário



Diz a tradição, que o natal é tempo de amor fraterno e solidariedade. No entanto, os natais dos últimos anos não têm sido mais os mesmos. Não sei se foram eles que mudaram ou eu...mas me lembro de um tempo em que, as noites de dezembro, eram bem mais  alegres, luminosas e  "mágicas" do que hoje em dia. 

Nessa época de menina não pensava em crises econômicas, preconceitos raciais, intransigências políticas e religiosas, crianças abandonadas e outras coisas igualmente tristes. E já madura, para mim continuava a não existir o descaso e a indiferença às dores alheias. Era um tempo em que, se doar sempre foi algo natural pra mim. Ao menos, eu assim vivia... Me recordo bem do ano em que esta visão de mundo começou a mudar, quando distingui o real sentido da palavra solidariedade...

Foi o primeiro natal que dei plantão no Hospital do Câncer. Tudo em mim mudou naquela noite de Natal. Foi um plantão tranquilo mas, intenso pelos relatos de vida, desafios e lutas que ouvi e também a linda mensagem do nascimento de Jesus que pude compartilhar com as pacientes. Aquela foi  uma noite de Natal inesquecível...

No ano seguinte, disposta a fazer mais e melhor, descobri um grupo de voluntários anônimos que reuniam-se para levar um pouco de conforto aos moradores das ruas. Passamos os dias 23 e 24 inteiros organizando pratos com guloseimas para serem distribuídos na noite de natal, além de  todo o material para curativos e atendimento de enfermagem. Queríamos sarar o corpo e a fome...

Dividimos a cidade por regiões. Separamo-nos em grupos e saímos para distribuir os pratinhos já prontos. O meu grupo ficou com uma região no centro da cidade. Fui, cheia de sonhos de principiante voluntária, viver aquela que seria uma das experiências mais marcantes da minha vida.

Era uma dessas noites em que, embora sendo entrada de verão, por um capricho da natureza, estava muito fria. Sugeri levar muito chocolate quente em várias garrafas térmicas, pensando nas crianças.

Ali chegando, entrei em contato com um mundo que desconhecia completamente. Várias vezes, parava, estatelada...não conseguia andar, atônita vendo famílias inteiras "morando" nas ruas. As crianças...nas ruas, sem ter pra onde ir, não só nas noites de natal, mas em todas as outras de suas vidas.

Em frente à igreja da candelária, havia dois mendigos comendo em um pratinho e tomando um copo de chocolate quente daqueles que estávamos distribuindo. Estranhamos, pois ainda não havíamos passado por ali.

Então, perguntamos a eles se algum voluntário, responsável por outra região, teria lhes dado o lanche. Eles responderam que não.

O que aconteceu foi que um deles estava dormindo na Praça XV quando fora acordado pelo grupo que havia ficado responsável por aquela região e logo se lembrou do amigo que estava na candelária sem ter o que comer. Pegou o pratinho e o copo de chocolate quente, foi até onde se encontrava o companheiro de fome e dividiu com ele sua “ceia de natal”.

A solidariedade do mendigo para com seu amigo tocou uma notinha  "jingle bell" diferente dentro mim. Mas também não pude deixar de constatar  como é curiosa a natureza humana...

Enquanto seres da mesma espécie, tendo muito, sofrem tanto para doar um pouco, outros são capazes de dividir um pouco, mesmo na mais completa penúria. E o mais curioso é que esses últimos precisam dividir o seu pouco porque os primeiros não abrem mão de acumular o seu muito.

Ainda acho que a solidariedade está entre os mais belos sentimentos de que é capaz um ser humano, mas acredito, também, que o mundo, e os natais em conseqüência, seriam bem melhores se não precisássemos dela.

A necessidade desse sentimento mostra as deficiências de nossa sociedade tão “boazinha”. Por isso, creio que jamais voltarei a enxergar as festas de fim de ano como enxergava em outros tempos, pois, embora ainda haja pessoas solidárias nos natais, infelizmente, sempre haverá outras que não têm um mínimo de sentimento fraterno durante todo ano.

Minha oração de petição é por um Natal (e todos os dias do ano) cada vez mais solidário.

Minha oração de gratidão, é que a minha igreja entendeu esse plano de Deus para as nossas vidas e este mês inteirinho estamos vivendo um natal solidário!

Feliz Natal pra todos! Feliz Natal!

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De vez em quando tiro o mar de lá e ponho em mim. Só pra refletir a luz da lua.